Dizem por aí que há três coisas que não se discute, política, religião e futebol. Sou obrigado a questionar o porquê disso já que qualquer discussão desde que respeitando a liberdade alheia é muito mais do que válida, é justamente através dessas discussões que o mundo evoluiu. Política e Religião então, são tão importantes no nosso dia a dia que chego a pensar que a pessoa que sugeriu a não discussão desses temas estava procurando ceifar a capacidade e o direito das pessoas a razão, ao questionamento e ao conhecimento. Já o futebol dispensa comentários.
Com isto em mente resolvi explorar o campo da religião e da espiritualidade (como o título sugere) no dia de hoje, pois vinha querendo escrever algo sobre já há algum tempo, mas fui principalmente impulsionado por conversas com a Srta. Ériaine (muito obrigado hein!) em volta do tema.
Fica até difícil começar a escrever algo quando o tema é tão complexo, mas acho que um bom caminho é iniciar com o porquê aparente do surgimento da espiritualidade e por que pessoas se apegam a ela.
Imagine-se em um local completamente hostil, a sua volta milhares de fenômenos que aparentemente não têm explicação alguma combinados com dúvidas existenciais que perduram até hoje e vualá, eis um Homo sapiens vivendo há 20 talvez 30 mil anos atrás. Nossa curiosidade eterna junto com nossa criatividade incrível então começam a entrar em ação e com a cultura disponível você começa a dar explicações para todos esses fenômenos utilizando da sua lógica cotidiana, não demora muito e surgem seres místicos representando dezenas de fenômenos, deuses, criam-se conceitos e histórias que justifiquem a nossa existência e expliquem o que é a morte. De repente as dúvidas foram preenchidas, a vida toma um sentido e a morte já não é mais um temor, ganha-se motivação para continuar.É uma visão meio cética eu sei, mas hei de concordar que ela faz sentido. Essa é a hipótese mais provável para o surgimento das religiões ao longo da história de nossa civilização, nos apegamos a espiritualidades variadas em prol do bem estar de nós mesmos e da vida em conjunto. Não vou tentar procurar falhas na lógica de nenhuma religião e muito menos tentarei exaltar a superioridade de outra pois deixo a análise da coerência e da veracidade de cada crença para cada um, apenas me atenho em dizer que todas elas têm algo de muito bom para contribuir na hora de formar uma sociedade justa e harmoniosa. Mas sei que posso filosofar por aqui sobre o papel que essas crenças desempenham na sociedade (consequentemente na nossa vida) e como a espiritualidade vêm caminhando hoje em dia.
Um dos fenômenos recentes é o número crescente de ateus ao redor do mundo. Desde a saída da civilização ocidental da Idade Média e com o surgimento de correntes filosóficas como o Cartesianismo, Iluminismo e Humanismo várias respostas antes desconhecidas estavam começando a ser sanadas através da lógica da ciência. Com todo esse conhecimento hoje muitos fatos, histórias e dogmas pregados pelas mais diversas religiões acabam por não conseguirem sustento e durante esse processo muitos fiéis migraram para diferentes crenças ou ao ateísmo. Obviamente as religiões se adaptaram a realidade na qual estão inseridas mudando muitos de seus hábitos, indo procurar fiéis em novas fronteiras ou até mesmo sendo palco de revoluções religiosas. Okey, isto é história e todos conhecem (ou deveriam), mas o interessante é analisar que não necessariamente se precisa de uma crença para garantir a estabilidade emocional visto o enorme contingente de ateus no mundo, ao invés de seguir uma religião essas pessoas geralmente incorporam apenas os valores morais/éticos e vêm como objetivo não o paraíso ou a iluminação mas sim o desenvolvimento (moral) da espécie humana na terra (não que religiões também não procurem isto), sem receio de dogma algum.
Outro fenômeno seria o crescente interesse das pessoas ocidentais pelas religiões orientais, muitas vezes por pura curiosidade ou necessidade de "troca de ares" são atraídas pelo misticismo dessas crenças e por suas perspectivas mais humildes ou abordagens diferentes de ver o mundo. Também surge aqui a curiosidade crescente das pessoas pelas religiões e culturas antigas e/ou politeístas gregas, egípcias, nórdicas, astecas e etc. De qualquer maneira, todas essas migrações, mudanças religiosas e interesses por "novas" crenças só demonstram o quão dinâmicas são as expansões e retrações das idéias religiosas e o quanto elas são influenciadas e influenciam as mudanças culturais.
Vale a pena ressaltar o quão positivas ou negativas podem ser certos dogmas religiosos para o mundo. Eu acima de tudo espero sempre por um mundo justo e cheio de liberdade para todos e isto me leva a ver negativamente, por exemplo, a posição de certas instituições e religiões em relação ao homossexualismo, ou em relação ao sexo, a liberdade da mulher (Islamismo) ou até mesmo a posição hostil de certas religiões e/ou instituições religiosas perante outras. Um papa, por exemplo, que condena o homossexualismo não está apenas limitando a reação ao círculo católico, ele passou a semear discórdia de católicos perante homossexuais ou um sacerdote muçulmano que prega o ódio aos cristãos dispensando comentários do quão desastrosas podem ser as conseqüências. Mas existe também o outro lado, quantas pessoas não são ajudadas por religiões mundo afora, quantas vidas não são resgatadas do vício das drogas, quantas campanhas contra fome, frio e doenças não são promovidas e sem contar o principal, a mudança interna que religiões podem proporcionar assim dando novas perspectivas com uma conduta moral mais elevada desencadeando em uma avalanche de boas ações que efetivamente podem mudar o mundo para melhor, junto com a explicação para o antes inexplicável. Isto são coisas que a mais corrupta das instituições religiosas não pode ofuscar e tirar dos religiosos e das religiões que realmente querem fazer a diferença neste mundo.
Portanto encerro dizendo que não importa sua espiritualidade, religião ou a ausência de uma o importante é saber conviver com as diferenças dos outros, buscar o aprimoramento espiritual e/ou ético/moral e sempre, sempre prezar pela compaixão e sabedoria.
Paz.
2.21.2008
Espiritualidade, Religião e Descrença
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