3.01.2008

Bens de mais, mentalidade de menos

Em algum lugar li certa vez que o processo de produção em massa dominou o homem antes de o homem dominar tal processo. Não eram exatamente nestas palavras, mas esta era a idéia da frase, era uma máxima de Marx e apesar de todas as críticas que dirigem a seu pensamento e de eu concordar com muitas de tais críticas, nesta reflexão ele mais do que certo estava, é inegável.

O que vemos hoje? Um mundo degenerado pela cobiça humana por bens valiosos, que muitas vezes são meros escapismos, uma era do descartável. Sei que isto é assunto clichê por aí, mas quanto mais se discute mais consciência é gerada.

Seria tipicamente comunista criticar a sociedade capitalista e injusta na qual estamos inseridos, o quão adestrados fomos para termos esta mentalidade de compra desenfreada e todo esse blábláblá de luta de classe, mais-valia e etc. Porém pessoas esquecem que a sociedade capitalista se mostra muito mais eficaz em promover o que o comunismo prega mas nunca conseguiu de fato fazer (com exceção dos altos escalões das ditas ditaduras do proletariado que encheram o bolso e gozaram das mais variadas regalias "burguesas"), que é melhorar a qualidade de vida das pessoas mais pobres. Talvez me digam que esta argumentação é falha pelo fato de tais tentativas de aplicação do comunismo terem sido deturpações do idealizado por Marx e eu frente a isto diria apenas que se todas as tentativas de aplicação do ideal seguiram na mesma direção autoritária demonstra claramente que há algo de falho no ideal em si. Sem contar que utopia por utopia estaríamos todos mortos, o que importa mesmo são ações palpáveis.

Pois bem, isto de fato não nos importa muito no momento, o ponto em que eu gostaria de chegar é o de que em nossa realidade tornou-se necessário sim continuar consumindo para sustentarmos esta vida cheia de pérolas tecnológicas e facilidades do cotidiano advindas das mesmas. De frente a tal peripécia do destino fico confuso, por um lado quero o progresso do meu povo (o mundo), a ascensão de mais e mais pessoas para "classes" mais privilegiadas e assim diminuindo a pobreza (consequentemente fome, doenças, criminalidade, baixo nível educacional [?] e etc.), e sem dúvidas estimular o crescimento econômico tem se mostrado a mais eficaz maneira de se atingir tais objetivos. E por outro lado fico com um pé atrás sabendo que comprar quando não se faz estritamente necessário (não, mera vaidade não se encaixa em necessário) é algo que compromete o futuro ambiental da terra e, mais importante, degrada pouco a pouco os bons valores contidos [?] nas pessoas. O ser passa a ser substituído pelo ter (status por bens sob sua posse criando relações deturpadas) e a vaidade combinada com impulsos de desejos por bens materiais supérfluos minam a convivência harmoniosa que a humanidade espera a tanto tempo.

Neste contexto entra a frase de Marx, viramos escravos de nossa própria invenção e o pior, esta escravidão nos levará a autodestruição. Em algum momento do passado deveríamos ter sido ponderados para produzir conforme a real necessidade e não criando uma falsa necessidade por bens além do mero essencial para a boa vida. Por isso contínuo a me conter cada vez mais na hora de comprar algo ou utilizar de algum serviço, creio que é possível sim reverter esse processo, se o mundo perceber o quão prejudicial essa mentalidade é estaremos a alguns passos também de sanar os problemas de pobreza e suas conseqüências de outra maneira não sendo necessariamente pautada no estímulo meramente econômico.

Mas como eu mesmo disse:

"Utopia por utopia estaríamos todos mortos, o que importa mesmo são ações palpáveis."

Ah será que estou sendo utópico?