3.19.2008

Desigual, Imperfeito, mas muito melhor

Texto Extraído do http://www.midiasemmascara.org/,
escrito por João Luiz Mauad.


Devido a falta de criatividade ou empenho em escrever algo aqui, vou pelo menos lançar um texto no blog que quebra paradigmas, já postei outro no estilo mas sempre vale a pena relembrar as pessoas de certos aspectos quando aos poucos se vê essa idéia comunista penetrar nos mais diversos segmentos da sociedade, jovens e adultos presos por idéias utópicas e uma retórica em muitos aspectos falaciosa.

Segue o Artigo Original:

Desde a publicação, em 1755, da célebre obra de Jean-Jacques Rousseau, “Discurso sobre as origens da desigualdade”, os ideólogos da esquerda têm dado exagerada ênfase aos aspectos negativos da disparidade de rendimentos resultante do processo de acumulação capitalista, como se ela fosse responsável pelas misérias do mundo, o que, absolutamente, não é verdadeiro.

Atualmente, baseados nos resultados do famigerado “Índice GINI” e em dúzias de outros estudos e pesquisas estatísticas não tão famosas, porém não menos manipuláveis - produzidas por uma legião de milhares de burocratas empoleirados naquele famoso oráculo socialista às margens do Hudson -, os áulicos do esquerdismo mundial seguem propondo a intervenção firme dos governos nos mercados, a fim de melhorar a distribuição da renda. Em outras palavras, pregam disfarçadamente a receita socialista.

Antes de consumir essa panacéia igualitária como remédio para os males do mundo, porém, o bom senso diz que deveríamos explorar alguns fatos a respeito do tema. Logo de cara, é preciso distinguir os conceitos de pobreza e desigualdade, não raro utilizados como sinônimos, bem como examinar, com o devido cuidado, as quase sempre inconsistentes relações de causa e efeito entre eles.

Nos EUA, por exemplo, as desigualdades de renda são profundas, mas os padrões de pobreza estão longe dos extremos verificados no terceiro mundo, especialmente na África, onde a diferença de rendimentos é muitas vezes insignificante, o que não impede que a miséria por lá tenha contornos medievais.

Aliás, por falar em contornos medievais, algo que quase ninguém pergunta é quais eram os níveis de desigualdade antes do advento da Revolução Industrial e do malfadado capitalismo ocidental. Quais eram os níveis de concentração de renda, por exemplo, na antiguidade? Por acaso a distribuição da riqueza era mais igualitária naqueles tempos? Decerto não há como responder com precisão a tais questões, pois esse tipo de investigação estatística é muito recente.
Entretanto, um estudo feito em 2007 (http://mpra.ub.uni-muenchen.de/5388/) mostra que, ao contrário da crença socialista, os níveis de concentração de renda não eram muito diferentes, no passado, do que são hoje.

A diferença entre a desigualdade existente naquele tempo e a que se verifica atualmente é que, graças ao desenvolvimento e à enorme produção de riquezas gerada pelo capitalismo, mesmo as classes mais pobres dos países ocidentais (notadamente Europa e EUA) estão muito melhor servidas em termos de conforto do que seus antepassados. Por exemplo, nos Estados Unidos uma pessoa com renda abaixo da linha da pobreza (pelos padrões adotados pelo governo daquele país) tem uma boa chance (99%) de possuir uma casa com eletricidade, água encanada, sistema de esgotamento sanitário, geladeira e fogão. 95% têm aparelho de TV, 88% telefone, 70% têm carro e equipamento de ar-condicionado (calefação). Confortos que nenhum dos mais ricos barões do século XIX poderia sequer imaginar há pouco mais de cem anos.

A comparação entre os padrões de pobreza anteriores e posteriores à Revolução Industrial e ao capitalismo chega a ser ridícula. Antes, quem nascia pobre morria de fome ou passavam a vida lutando contra um sem-número de privações, doenças, etc. Trabalhava de sol-a-sol, 7 dias por semana, sem direito a férias e em ambientes absolutamente insalubres. Suas chances de ascensão social eram inexistentes e, não por acaso, a expectativa de vida não ia além dos quarenta e poucos anos. Já os pobres de hoje dispõem, como vimos acima, de um padrão de vida senão confortável, pelo menos muito mais digno. A imensa maioria trabalha somente 8 horas por dia, seis vezes por semana, em ambientes sadios e tem direito a um período de descanso anual. Suas chances de ascensão social são infinitamente melhores do que a de seus antepassados e a expectativa de vida, no nascimento, já está além dos 70 anos.

Malgrado esses fatos evidentes e verdades óbvias, no entanto, a imagem do capitalismo permanece muito ruim junto ao público em geral - recentemente, por exemplo, alguns leitores do Mídia Sem Máscara, confessadamente conservadores, andaram reclamando de uma certa defesa exagerada do capitalismo por aqui, alegando que ser anti-comunista não implica, necessariamente, abraçar a causa capitalista, um modelo muitas vezes injusto e desagregador, segundo eles.

A origem dessa visão deformada do capitalismo está no início do Século XIX, época em que a face mais visível da Revolução Industrial na Inglaterra eram as indústrias têxteis, onde a contratação de mulheres e crianças em condições pouco sadias ou confortáveis, horários longos e baixos salários era rotineira. Por conta desse fato histórico tão lastimável quanto passageiro, associado ao marketing esquerdista ininterrupto, os capitalistas são vistos até hoje como seres exploradores e desumanos, desprovidos de qualquer sentimento.

O fato é que a maioria dos historiadores, especialmente os socialistas, tomaram aquelas condições como novidades sem precedentes, como se a pobreza fosse algo novo, o que é uma completa falácia. Na verdade, a rápida aglomeração urbana ocorrida nos primórdios da Era Industrial apenas descortinou algo já existente nos campos e nas vilas, mas até então encoberto, disperso ou pouco nítido. O alegado aumento da miséria promovido pelo capitalismo, portanto - não por acaso a base da tese profética de Marx -, era lastreado pela ignorância acerca das reais condições de vida anteriores a ele. Antes de serem absorvidas pela “exploração capitalista”, mulheres e crianças sofriam privações ainda piores nos campos, onde o trabalho era, além de estafante e insalubre, muitas vezes escravo. Já os que viviam nas cidades não raro tornavam-se mendigos, vigaristas ou prostitutas. Portanto, o paraíso pré-capitalista, cantado em prosa e verso pelos historiadores socialistas, é algo que jamais existiu.

Não dá para esquecer também que o fim definitivo da escravidão – instituição de que se tem notícia desde os primórdios da civilização humana – só se tornou possível após o advento do capitalismo e sua necessidade intrínseca de fomentar um mercado consumidor constantemente maior. Não estou aqui dizendo que o capitalismo foi o único responsável pelo fim do barbarismo escravocrata, mas que ajudou – e muito – para que isso se tornasse realidade, isso é inegável.

Falar em desigualdade social como fator determinante da pobreza de parte da sociedade só faria sentido se a riqueza do mundo fosse algo estático e o total a ser dividido permanecesse sempre constante. Nesse caso, evidentemente, a porção amealhada por um indivíduo deveria ser tirada de outro, e assim sucessivamente. Gosto do exemplo da mesa de pôquer, onde, para que um ganhe, outro deve, necessariamente, perder. Com efeito, foi isso mais ou menos o que aconteceu durante boa parte da Idade Média, período em que a riqueza mundial, medida em termos per capita, permaneceu virtualmente inalterada. A partir de 1700, no entanto, a renda começou a crescer de forma geométrica, chegando a multiplicar-se 40 vezes - em termos reais, pelo menos na Europa Ocidental e América do Norte, lugares onde o capitalismo encontrou as melhores condições para florescer.

Não estou dizendo que o capitalismo seja um modo de organização econômica e socialmente perfeito. Longe disso! Até porque não se trata de um modelo parido da cabeça de algum luminar ou planejado para ser perfeito. Na verdade, é um sistema complexo que nasceu espontaneamente, baseado na divisão do trabalho e na interação voluntária entre os indivíduos, sempre em busca de melhores condições de vida e conforto. Eu não defendo o capitalismo – e acima de tudo o capitalismo liberal - porque ele é perfeito, mas simplesmente porque todas as suas alternativas se mostraram bárbaras, injustas e contrárias aos direitos elementares do ser humano.

http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=6289